O buraco do Neymar é mais embaixo
2024-11-28 HaiPress
O arquipélago de Fernando de Noronha — Foto: Nelson Ricciardi/Divulgação
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 27/11/2024 - 18:32
Fernando de Noronha: Desafios do Turismo Excessivo
Em Fernando de Noronha,a natureza cede lugar ao dinheiro com crescimento desordenado. Turismo mudou para selfies e influenciadores,perdendo a essência. Locais renomeados,como o Buraco do Neymar. Construções desproporcionais e invasivas ameaçam a beleza natural da ilha. Ainda,a Praia do Sueste proibida por tubarões. O paraíso enfrenta desafios sob o domínio do turismo excessivo.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Sempre há risco quando se volta a um lugar onde já se foi feliz. A primeira vez diante da casa em que passei boa parte da minha infância,anos depois de o imóvel ser vendido,foi um choque. O novo proprietário derrubou uma mangueira centenária,orgulho do meu pai,para construir um prédio horrendo. Nunca mais voltei.
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Fernando de Noronha é um lugar onde já fui muito feliz,com o máximo de simplicidade. Mas,depois de seis anos,com uma pandemia no meio,a sensação é esquisita no retorno ao arquipélago,tomado por um crescimento que até pode ser legal,mas que parece desordenado,uma espécie de Barra ou Búzios no meio do Atlântico.
Por todo lado pipocam novas casas,muitas de dois andares. Moradores falam em cercas vivas que “andam” à noite,pra lá ou pra cá,ao gosto do invasor. Uma expansão desproporcional ao tamanho e à vocação da ilha. A tradicional hospedagem em casa de pescador cedeu a uma proliferação de pousadas. Agora há carros no lugar do buggy. Muitos carros. As praias desertas ganharam serviço de barraca,comida e bebida numa síndrome de Caribe. As caixas de música em alto volume,assim como no Rio,já dominam as areias. A essência do convívio com a natureza selvagem perdeu para a força do dinheiro.
Estaria tudo bem se os moradores estivessem satisfeitos. Mas uma rápida conversa com eles confirma que o turismo de Noronha mudou. E não foi para melhor. Mergulhadores e amantes da natureza deram lugar a um novo público,que parece chegar a outra ilha,a de Caras,pouco interessados em tartarugas e baleias e apenas ávido por selfies,num desespero de registrar tudo para o Instagram. Muita maquiagem,muito cabelo escovado,muito preenchimento labial,contrariando o clima rústico. A invasão de celebridades nos últimos anos transformou Noronha no destino de quem deseja aparecer. O low profile perdeu para os influencers.
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O Buraco do Galego,uma piscina natural na Praia do Cachorro,agora é chamada de Buraco do Neymar. Influenciados esperam até uma hora debaixo de sol inclemente para fazer um registro no mesmo cenário em que o jogador fez uma foto com Bruna Marquezine. Nem entre os turistas desavisados de “White Lotus” se viu cafonice igual.
No local que tem um dos menores índices de criminalidade do mundo,um prédio horrendo de dois andares da Polícia Federal está sendo erguido aos pés do monte onde,até outro dia,só imperava a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios,uma joia do século XVIII. Caro diretor-geral da PF,sabemos que sua vida anda tomada por golpistas,mas não seria o caso de rever essa atrocidade enquanto é tempo?
A Praia do Sueste,uma das mais bonitas,está proibida para banhos de mar há dois anos,desde que tubarões dominaram suas águas. Gosto de pensar que se trata da natureza se apossando de novo do que é seu,numa vingança contra a pretensão e o mau gosto do ser humano. E Neymar será obrigado a levar seu buraco para outras paragens. Apesar de tudo,Fernando de Noronha ainda é o lugar mais lindo do mundo. Resta saber por quanto tempo.