Eleições EUA: Kamala vai em busca do voto de mulheres conservadoras e Trump aposta nos apolíticos
2024-11-04 HaiPress
Disputa na Pensilvânia: democratas registram eleitores no sábado; republicanos se vestem com saco de lixo para ato eleitoral — Foto: Samuel Corum/AFP e Michael M. Santiago/Getty Images/AFP
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 03/11/2024 - 21:57
Estratégias opostas na reta final: Kamala vs. Trump
Na reta final das eleições nos EUA,estratégias opostas são adotadas por Kamala e Trump. Ela busca votos conservadores femininos,enquanto ele apela aos apolíticos. A polarização política se intensifica,com foco em gênero e educação. A disputa é acirrada,com pesquisas indicando empate nos estados decisivos. O resultado depende da ampliação das margens em grupos específicos. Os republicanos visam a fidelização da base trumpista,enquanto os democratas apostam na organização e na mobilização de eleitores.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
Na mais disputada eleição presidencial americana em duas décadas,democratas e republicanos apostam,além da mobilização de suas tradicionais bases,em estratégias díspares para conquistarem amanhã os 270 votos no Colégio Eleitoral. As ações das campanhas nas últimas horas antes do voto nos sete estados mais decisivos foram informadas por sondagens internas. Elas indicam o aumento da polarização política a partir de gênero e educação e a diminuição se considerados raça e classe social.
Agenda nacional: Arizona resume disputa nacional entre Trump e Kamala ao debater aborto,imigração e economiaReta final: Trump afirma que 'não deveria ter ido embora' da Casa Branca após ser derrotado em 2020
Mulheres e eleitores com mais escolaridade tendem a votar na vice-presidente Kamala Harris em maior número do que o fizeram no presidente Joe Biden em 2020. Já o ex-presidente Donald Trump ampliou desde então sua vantagem entre homens e pessoas sem curso superior. Também avançou sobre o voto latino,negro e de trabalhadores de colarinho azul,ainda que sigam majoritariamente votando democrata.
Mais Sobre Eleições americanas 2024
Eleições EUA: Imigração dominará agenda com América Latina
Eleições EUA: Propostas opostas na disputa aumentam incerteza sobre clima
Apesar do arrastado processo eleitoral iniciado há dez meses,na prévia republicana de Iowa,e de seguidos eventos inusitados,entre eles o aborto da candidatura à reeleição de Biden e as duas tentativas de assassinato de Trump,a disputa chega ao seu último dia indefinida. Pesquisas indicam empate em todos os estados-pêndulo. E a vitória,creem estrategistas democratas e republicanos,virá de quem ampliar mais as margens em estratos específicos nas unidades mais decisivas da federação.
Comandante das vitoriosas campanhas de Barack Obama à Presidência,David Axelrod reconheceu ontem na CNN a dificuldade de se vencer o pleito com a aprovação de 40% de Biden pelos eleitores nas pesquisas,com 57% contrariados com o modo como o país é conduzido. Se do outro lado não estivesse um personagem que desperta amor e ódio em proporções idênticas,os republicanos teriam hoje,diz,uma véspera de eleição mais tranquila.
Mapa da eleição dos EUA: veja a situação da disputa nos estados-pêndulo — Foto: Arte/O GLOBO
Mulheres de direita
A principal aposta de Kamala para amanhã está nos subúrbios,onde precisa aumentar a margem das vitórias democratas nas duas últimas eleições. O principal combustível para 2020 e 2022 foram os votos anti-trumpistas de mulheres mais conservadoras,em sua maioria brancas e de classe média-alta,que cruzaram a linha partidária. Parte delas votou na ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley nas primárias republicanas deste ano nos estados decisivos.
O apelo a estrato não se trata apenas do peso histórico de levar à Presidência a primeira mulher,negra e de origem caribenha e asiática. Uma das razões pelas quais as pesquisas mostram mais mulheres pensando em votar democrata amanhã é o fim do direito ao aborto,decidido em junho de 2022 pela Suprema Corte,com o voto decisivo dos juízes conservadores indicados por Trump.
Eleições nos EUA: Conheça o histórico de Trump e Kamala até a candidatura à presidência
A campanha de Kamala não só defende os “direitos reprodutivos” das americanas como denunciou a mudança como “invasão do governo em nossas vidas privadas”,se distanciando de posições dogmáticas. Por isso crê que as urnas amanhã serão mais parecidas com 2022 do que 2016,quando Trump derrotou a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.
— Sou veterana das forças armadas e companheiras engravidaram após serem estupradas quando serviam. Não concordo em elas agora serem forçadas a seguir com a gravidez,dependendo de onde vivem — disse Ann Mitzel,de 62 anos,em comício da democrata na Grande Phoenix,no Arizona,um dos 10 estados que decidirá no voto o fim legal da gravidez.
Intenções de voto:Kamala e Trump têm disputa acirrada em estados decisivos,revelam novas pesquisas
Nos mapas internos democratas,eleitoras como Ann garantiriam a vitória de Kamala . O cálculo,no entanto,depende de migração menor do que a apontada pelos republicanos de trabalhadores brancos e homens jovens negros e latinos,saudosos do Trump pré-pandêmico,quando tinham mais dinheiro no bolso,e atraídos pelo discurso xenofóbico,com a promessa de deportação de milhares de imigrantes não-documentados.
— Não gosto do sujeito,mas votarei nele pois mal consigo pagar meu aluguel e colocar comida em casa. Com Trump,não vivíamos a insegurança da invasão de ilegais pela fronteira e de guerras como as da Ucrânia e de Gaza. — diz o motorista de aplicativo da Filadélfia Michael Abbas,55,que é negro,muçulmano e imigrou há um quarto de século,do Quênia.
Kamala cumprimenta eleitores na Carolina do Norte,em comício no sábado — Foto: Justin Sullivan/Getty Images/AFP
Os democratas colocarão à prova amanhã operação de campo percebida pelos dois lados como mais organizada,com um exército de militantes distribuídos em grupos específicos,que se sofisticou justamente após a derrota de Hillary. Em conjunto,a militância diz ter batido em 8 mil portas na Pensilvânia ontem,e a meta é dobrar o número hoje. Este ano,se beneficiou da vantagem em doações que garantiu investimento superior ao dos republicanos em seis dos sete estados decisivos.
De forma reservada,líderes regionais da campanha de Kamala dizem temer os resultados justamente de Nevada,onde republicanos gastaram mais,e no Wisconsin,com perfil mais conservador do que o vizinho Michigan. Entre os republicanos,o nervosismo é maior sobre a Carolina do Norte,onde a eleição para o governo estadual com um trumpista ultraconservador e a destruição do furacão Helen em redutos trumpistas podem dar a a vitória à vice. Os dois lados se dizem confiantes com o prêmio maior,a Pensilvânia.
Apoiadores de Trump realizam carreata na Flórida — Foto: Giorgio Vieira/AFP
Trump mira descontentes
Os republicanos miram em uma ampliação de 2016 replicando nas eleições gerais a fórmula exitosa das primárias este ano— engordando a fiel base trumpista com eleitores antissistema,que não votam habitualmente mas vêm sendo cadastrados pelo movimento Faça a América Grande Novamente desde 2015. Daí o aumento crescente do radicalismo nos discursos de Trump,com retórica cada vez mais violenta,com tiradas sexistas e racistas. O ex-presidente também acentuou esta semana a pregação falsa de que só a fraude,que já estaria acontecendo na Pensilvânia,tiraria a vitória de Trump. E que,por isso,“precisamos vencer de lavada e votar em número recorde”.
No sábado,uma pesquisa regional respeitada indicou uma virada em um estado considerado seguro para Trump,Iowa,onde a corrida começou em janeiro. Kamala teria agora 47% contra 43% de intenção de votos para o republicano,empate dentro da margem de erro. Nas médias de pesquisa ela segue atrás por 6%. Mas a nova pesquisa,da Selzer,para o Des Moines Register,o principal diário do estado,oferece detalhe importante: o crescimento de Kamala fo impulsionado justamente por mulheres,em sua maioria de mais de 40 anos. O estado do meio-oeste implantou em julho a proibição de aborto após seis semanas,em desacordo com a maioria dos eleitores,de acordo com seguidas pesquisas,e essa seria uma reação à mudança na legislação estadual. Mesmo que não vençam amanhã no Iowa,democratas viram dois sinais de fumaça importantes na pesquisa — a emergência da possível onda feminina que garantiria a vitória amanhã e o fato de ela ter sido registrada em um estado do Meio-Oeste,com eleitorado similar ao dos decisivos Wisonsin (especialmente) e Michigan.
Mas outros números,para consumo interno,mostram aos republicanos que mesmo em estados que tratarão do aborto amanhã,como o Arizona,quinhão significativo de eleitoras votará favorável a se garantir o direito e em Trump. A campanha não acredita que perderá a queda de braço por conta da multiplicação de mulheres votando em Kamala. Nem de um apoio maciço de ex-indecisos na última hora à adversária. Equilibrariam a disputa de gênero com uma expansão igual ou maior entre os homens,incluindo os árabes do Michigan,com o voto de protesto contra o apoio de Washington a Israel em Gaza que poderia derrubar a Muralha Azul democrata.