O alerta da Casas Pedro: reforma tributária vai salgar o bacalhau
2024-11-04 HaiPress
Loja Casas Pedro em Nova Iguaçu — Foto: Divulgação
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 01/11/2024 - 19:30
Reforma tributária ameaça preço do bacalhau
A reforma tributária pode aumentar o preço do bacalhau,considerado luxuoso,tornando-o menos acessível. A Casas Pedro alerta que a tributação diferenciada pode prejudicar a isonomia com outras proteínas,levando a mudanças no consumo. A empresa,conhecida por vender a granel,destaca a importância do bacalhau na dieta popular,especialmente em bairros como Alcântara,Madureira e Nova Iguaçu. Se a redação aprovada na Câmara for mantida,o preço do bacalhau pode subir,afetando a tradição religiosa e o consumo ao longo do ano.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Tratado como iguaria de luxo pelo Congresso na Reforma Tributária,o bacalhau luta para ser reconhecido como um prato popular. No Rio de Janeiro ao menos,onde a herança portuguesa é forte,o bacalhau está longe de ser um produto consumido exclusivamente pela Zona Sul. Porém,o preço do bacalhau corre o risco de ficar salgado com a nova tributação — que prevê isenção de alíquota para a picanha e até a carne japonesa Wagyu,mas deixou de fora o gadus morhua. O alerta vem da Casas Pedro,empório de venda a granel que é um dos maiores varejistas de bacalhau do país.
A rede deve vender 720 toneladas do peixe este ano — 6% mais do que no ano passado. Segundo o CEO Ivo Ferreira,a maior evidência de que o bacalhau é um alimento básico da dieta popular está na distribuição das vendas do produto nas 66 lojas próprias da rede.
— As quatro lojas da Casas Pedro em Copacabana não vendem juntas o que as unidades de Alcântara,Madureira ou Nova Iguaçu vendem separadamente o ano inteiro — diz Ferreira. Nesses bairros,a maior saída é de bacalhau desfiado,seco e salgado.
A Reforma Tributária aprovada na Câmara incluiu o complexo carne na lista da cesta básica que contará com isenção da alíquota: isso inclui todos os cortes bovinos e suínos,aves (menos foie gras) e pescados. Crustáceos,excluindo lagosta e lagostim,terão redução de 60% no IVA.
Dentre os pescados,importados como salmão,atum,bacalhau e caviar,entraram na lista das exceções,classificados como de luxo,passando a contar com alíquota cheia.
Hoje o quilo do bacalhau tipo gadus morhua é vendido por cerca de R$ 102 o quilo,valor que embute 20,3% de tributos. Se fosse incluído no complexo carne,o preço do quilo poderia cair para algo em torno de R$ 70. No entanto,se o Senado mantiver a redação aprovada na Câmara,o preço do bacalhau deve subir para mais R$ 120.
— Além de se tornar inacessível aos mais pobres,isso cria um problema de isonomia com outras proteínas. Como os outros peixes e carnes vão ficar mais baratos,haverá substituição no consumo — diz Ferreira. Além da alíquota maior,o preço ainda pode ser impactado pelo aumento que a reforma deverá provocar na cadeia de serviços.
No Congresso Nacional,quatro emendas tentaram incluir o bacalhau na lista do complexo carne,seja com isenção total ou de 60%,sob o argumento de se tratar de um alimento ligado à tradição religiosa.
O Brasil importou 11,2 mil toneladas de bacalhau de janeiro a agosto,sendo que 74,4% deste total chegou no país antes da Páscoa,período de maior consumo. Na Casas Pedro,contudo,embora haja aumento na Páscoa e no Natal,o consumo acontece o ano inteiro. — Das 720 toneladas que vendo no varejo,umas 100 ton são vendidas na Páscoa e no Natal — diz Ferreira.
Fundada por imigrantes libaneses em 1932,a Casas Pedro deve faturar R$ 630 milhões este ano. Hoje na terceira geração da família Mussalem,a rede tinha 12 lojas até 2015,quando se associou à Visagio,consultoria de gestão e transformação de negócio,vendendo 40% do negócio. De lá para cá,a Casas Pedro tem crescido mais de 10% ao ano,e faz planos de expansão para além do estado do Rio.