Dez meses e quase 40 mil mortos: Saiba o esforço de Gaza para não perder a conta sobre os mortos
2024-08-08 HaiPress
Palestinos passam pela entrada do hospital dos Mártires de al-Aqsa enquanto a fumaça sobe durante o bombardeio israelense de Deir el-Balah,no centro da Faixa de Gaza,em 6 de agosto de 2024 — Foto: EYAD BABA/AFP
RESUMO
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Desafios na contagem de mortos em Gaza
Em Gaza,desafios para contabilizar quase 40 mil mortos após 10 meses de guerra. Ministério da Saúde usa dados pessoais e objetos de identificação. Autoridades internacionais consideram números confiáveis. Críticas de Israel pela falta de distinção entre civis e combatentes. Dificuldades no sistema de saúde impactam precisão das estatísticas. Hamas reconhece ataque com 1.198 mortes em Israel.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Com grande parte da Faixa de Gaza reduzida a escombros após dez meses de guerra,contar os mortos tornou-se um desafio para o Ministério da Saúde do território,administrado pelo Hamas desde 2007. Qual o procedimento das autoridades sanitárias para estabelecer esse número,que já chega a quase 40 mil?
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Os corpos são identificados pelos elementos encontrados neles ou por um familiar próximo,explicaram jornalistas da AFP que estiveram nos hospitais diversas vezes. As informações pessoais do morto são inseridas em uma base de dados informatizada do Ministério da Saúde palestino em Gaza,incluindo nome,sexo,data de nascimento e número de identidade.
Quando os corpos não são identificados,por estarem irreconhecíveis ou por não serem reivindicados — às vezes famílias inteiras morrem — são registrados com um número e o máximo de informação possível. Pistas,como joias,relógios,telefones ou marcas de nascença,são coletadas e fotografadas.
Palestinos visitam túmulos de seus entes queridos no início do festival Eid al-Fitr,que marca o fim do mês sagrado muçulmano do Ramadã,em um cemitério em Rafah,no sul de Gaza,em abril de 2024 — Foto: Eyad BABA/AFP
Em diversas declarações,o Ministério da Saúde de Gaza explicou o procedimento do balanço. Nos hospitais "estatais",administrados pelo Hamas,as "informações pessoais e números de identidade" de cada palestino morto na guerra são inseridos em um banco de dados ao dar entrada ou após sua morte,no caso dos feridos. Esses dados são transmitidos "diariamente" ao "registro central de mártires" do ministério.
Nos hospitais particulares,seus dados pessoais são registrados em um formulário enviado em "24 horas" ao ministério para serem incluídos na base central. O "centro de informação" do ministério verifica as informações recebidas dos hospitais para "garantir que não há duplicações ou erros" antes de registrá-las na base de dados.
Os residentes de Gaza também são incentivados pelas autoridades palestinas a relatar qualquer morte em suas famílias em um site designado pelo governo. Os dados são usados para as verificações do ministério.
Correlação entre dados oficiais e oficiosos
Os balanços diários publicados pelo ministério foram questionados,especialmente pelo presidente americano,Joe Biden,que duvidou de sua credibilidade no início do conflito. No entanto,em março mencionou "milhares e milhares" de mortes de civis,sem comentar a veracidade das estatísticas do ministério,que também contabiliza os feridos.
Caminhão contendo os corpos de palestinos mortos por ataques aéreos israelenses no centro de Gaza durante as primeiras semanas do conflito,em 22 de outubro de 2023 — Foto: Samar Abu Elouf/The New York Times
Os balanços são citados pela maioria das organizações internacionais e várias agências da ONU,especialmente a responsável pelos refugiados palestinos (UNRWA),consideram as estatísticas confiáveis.
— No passado,nos cinco ou seis ciclos de conflito na Faixa de Gaza,esses números eram considerados confiáveis e ninguém nunca os contestou de fato — disse o chefe da UNRWA,Philippe Lazzarini,em outubro.
O Ministério da Saúde trabalha com funcionários que respondem tanto à Autoridade Nacional Palestina (ANP),com sede em Ramallah,nas Cisjordânia,como ao Hamas. Uma investigação conduzida pela Airwars,uma ONG focada no impacto da guerra sobre os civis,analisou as entradas de dados de 3 mil dos mortos e descobriu "uma alta correlação" entre os dados do ministério e o que os civis palestinos relataram on-line,com 75% dos nomes relatados publicamente também aparecendo na lista do ministério.
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O estudo indica que,no decorrer da guerra,as estatísticas do ministério "tornaram-se menos precisas",estimando que os danos ao sistema de saúde dificultam a tarefa. Dos 400 computadores do hospital Nasser,um dos últimos em operação parcial no sul da Faixa de Gaza,apenas 50 funcionam,segundo seu diretor,Atef al-Hut.
As autoridades israelenses frequentemente criticam os números do ministério por não distinguirem os mortos entre combatentes e civis. Mas nem o Exército israelense,nem o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu,negam a escala do número total de mortos. Os serviços de imprensa do Hamas calculam que 70% dos quase 40 mil mortos em Gaza são mulheres (cerca de 11 mil) e "crianças" (pelo menos 16,3 mil).
O ataque terrorista do Hamas contra o sul de Israel em 7 de outubro de 2023 matou 1.198 pessoas,a maioria civis,segundo uma contagem baseada em dados oficiais israelenses.